domingo, 30 de agosto de 2009

A origem das pérolas



















Tombou Abel, assassinado pelo invejoso e cruel irmão. Impulsionada pelo instinto materno, tentou Eva reanimar o filho morto, acariciando longamente seu corpo exânime.Quando se convenceu de que Abel não despertava mais, desconsolada e aflita, caminhou longa jornada até junto à praia do mar, e aí quedou-se a olhar, assombrada, a extensão das águas até então desconhecidas. Nesse momento afloraram-lhe aos olhos suas primeiras lágrimas. Uma após outra, rolaram silenciosamente pela face, e foram cair sobre as pétalas de pequeninas flores, entre os rochedos.

Adão, que havia seguido ocultamente sua esposa, observava de longe, sem ser visto. Quando Eva se afastou, foi ver o que havia caído dos olhos chorosos da mulher. Encantado com a forma e o esplendor das gotas minúsculas, tomou-as, escondeu-as no interior de conchas e enterrou-as na areia.

O mar esperou que Adão adormecesse, e ao cair da noite fez um esforço titânico, cresceu, elevou-se, estendeu ondas de espuma até o tesouro escondido, e recolheu feliz as conchas das lágrimas.

Mas as ondas, ao contato com as lágrimas que se haviam transformado em pérolas, também choraram, e até hoje se escuta sua voz plangente junto das praias.

E quando o homem quer uma pérola, tem de escutar primeiro o pranto das vagas, e depois descer à profundidade do mar, onde se ocultam ainda, em modestas conchas, as lágrimas de nossa primeira mãe.
Athalicio Pithan, “Lendas e Alegorias”

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