sábado, 10 de novembro de 2007



Há uma lenda que diz que o primeiro leque foi a asa de Zéfiro arrancada por Cupido para abanar sua amada Psiché. Outra, dá conta que a filha de um poderoso mandarim foi assistir a Festa das Lanternas, onde milhares de velas são acesas. Com o calor, ela sentiu-se mal e discretamente tirou sua máscara para abanar-se com ela. Isso era inadmissível e, como moça era querida e respeitada, foi imitada por todas as outra mulheres, que dessa forma a protegeram. Teria, então, nascido o leque.

Esse pequeno objeto - que se fecha sobre si mesmo, pode ser guardado em qualquer bolsa e tirado para se abanar - tem origem remota. Foram encontrados leques na China, nas tumbas de faraós, nas pinturas de murais no Egito e Síria. Registros na China e Japão indicam que foi concebido séculos antes de Cristo e que tenha, portanto, mais de três mil anos de existência.

Na China o leque fazia parte integrante do vestuário, indicando dignidade e poder. No Egito aparecia como distintivo do faraó e, para um vassalo, era uma honra abanar seu soberano com ele. Na Grécia, os maridos demonstravam seu amor abanando as esposas durante o sono; a igreja, por sua vez, presenteava os padres em sua ordenação com um leque de ébano ou sândalo, madeiras aromáticas, para que se abanassem durante os ofícios.

Os leques retráteis surgiram no Japão e os portugueses levaram a novidade para a Europa, por volta do século XV ou XVI, a partir da Península Ibérica, Itália e finalmente a França. Rapidamente o objeto passou a fazer parte da indumentária elegante, tornando-se um apetrecho indispensável. Como tudo em moda, as formas foram modificando: primeiro, foram ornamentados com reproduções de pinturas famosas e cenas da mitologia; depois portavam mensagens como letras de música e, até, propagandas políticas. Criavam-se leques, ainda, para comemorar casamentos reais, coroações, com a efígie dos imperadores, fim de guerras mundiais com imagens de flores e pombas brancas, símbolos da paz, atos governamentais, etc. Na época da Revolução Francesa foi um importante veículo de textos revolucionários.

O instinto feminino deu uma utilidade imprevista ao leque, cuja maneira como era utilizado revelava mensagens entre namorados ou amantes: marcar um encontro, pedir ao cavalheiro que seguisse a dama, indicar que era casada ou que estavam sendo vigiados. Segurar o leque sobre a bochecha direita, por exemplo, significava "siga-me".

Inicialmente os leques foram feitos com penas de pavão ou folhas de lótus. Grandes, não podiam ser fechados e quem ficava com o trabalho de movimentá-los eram os escravos. Já, nessa ocasião, apareciam como objetos de arte, pintados em cores vivas e com desenhos ornamentais. Do século V até a Idade Média os leques foram confeccionados com hastes de marfim, cabos de ouro ou prata e ficavam presos à cintura por correntes de ouro. A partir daí um sem-número de materiais e adereços passaram a enfeitar o objeto.

Os leques chegaram ao Brasil com D. João VI, importados da China sob encomenda, com pinturas alusivas ao período histórico em uma face e motivos ornamentais chineses na outra. Essas peças ainda hoje são chamadas de "Leques Históricos" e fazem parte do acervo dos nossos museus.

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