sábado, 10 de novembro de 2007

Leques


























Um terceiro leque em forma de coração, feito em vermelho, branco e cinza, é um presente da senhora conselheira secreta Schnorr von Carolsfeld, do ano de 1922 (MfV, nº 22-24-2). Pode ter sido confeccionado por volta do final do século XIX. Para o vermelho brilhante, um íbis escarlate ou Sichler1 vermelho (Eudocimus ruber) tinha de sacrificar sua penugem. Essa ave encontra-se espalhada predominantemente no norte da América do Sul, de modo que pode ser correta a afirmação, no livro que registra a entrada do leque, de que proveio da Venezuela. Para as penas brancas, abateram-se garças; para as verdes, papagaios do Amazonas. O encanto desse leque é aumentado pelas hastes rosas e brilhantes das penas, que se encontram arranjadas no punho, composto por uma espécie de gramínea.

























































No segundo leque com o punho de osso, utilizaram-se penas cinza-escuro de papagaios do Amazonas. No meio, a pele com penas não provém de um colibri, como se considerou antigamente, mas de um tangará. Esses pássaros, com as mais coloridas penugens, estão entre os mais sortidos nos trópicos americanos.




























Diz-se que a moda dos leques de pena só teria surgido por volta de 1860, em Paris, depois que se conseguiu criar avestruzes em cativeiro, garantindo assim o abastecimento de penas (Gray, 1988, p. 240; Maignan, 1989, pp. 38-9). Mas, já no ano de 1644, Tommaso Borgione desenhava em Turim fantasias de índios e punha leques de penas nas mãos dos dançarinos (Honour, 1975, p. 103, f. XVI), como mostra desenho da Biblioteca Nazionale. Os leques de Turim mostram uma longínqua semelhança com os do Brasil, estes possivelmente fabricados a partir de 1860. Evidentemente, o Brasil somente respondia a uma tendência da moda na Europa. Os leques da América Latina daquela época são amparos de mão; não são dobráveis, portanto (Bennett e Berson, 1981, p. 121, f. 48; Durian-Ress e Heller-Winter, 1987, p. 240; Gray, 1988, p. 251, nº. 63.663; Varela, 1993, pp. 144, 159-60).
A princesa Teresa levou para Munique em 1888, de sua viagem ao Brasil, dois leques em forma de flor em botão (MfV, nº 26, t. 1800/01). Tendo como 'pétalas' as primeiras penas do colhereiro-rosa (ajajá), o punho é de casco de tartaruga. Os 'estames' da rosácea são formados pelas asas de escaravelhos do gênero Hoplia, cuja área de proliferação mais ao sul fica na Guatemala. Também no Brasil, portanto, os fabricantes de tais artigos da moda não se limitavam à rica oferta da fauna de seu próprio território, mas importavam vários componentes de outros países.

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